Eles saíram de seus países em busca de melhores oportunidades para si e sua família, enfrentaram barreiras culturais e idiomáticas, mas não desistiram de ter uma vida melhor. Essa é a história de muitos migrantes e também a do haitiano Jacquenel Evariste e da venezuelana Anitza Guayapero. Junto com o Pe. Gustot Lucien, da Igreja Pompeia, conhecida como paróquia dos migrantes e da comunidade italiana, hoje pela manhã, eles compartilharam com os alunos da 2ª Série do Ensino Médio do Colégio Anchieta suas experiências como migrantes no Brasil, suas dificuldades e também conquistas nesse que agora é seu novo lar.

Pe. Gustot, que também é haitiano, falou sobre seu trabalho à frente do Centro ítalo Brasileiro de Assistência e Instrução as Migrações (CIBAI) e da Pastoral da Mobilidade Urbana. O CIBAI presta apoio a migrantes, com doação de roupas e alimentos, bem como oferecendo aulas de Língua Portuguesa aos estrangeiros e auxílio na emissão de documentos. Segundo Pe. Gustot, a migração é o que possibilita o enriquecimento das culturas a partir da construção de novas relações. “O mundo deve enxergar os migrantes como protagonistas de uma nova sociedade, respeitando os valores que cada um carrega, sua cultura, sua maneira de viver a fim de contribuir para novas relações humanas”, pondera.

Ele explicou aos alunos as diferenças entre refugiados e migrantes e como os povos estão em mobilidade constante. “Antes só se via europeus migrando de um país para outro. Hoje já vemos senegaleses com seu comércio nas ruas da cidade. São os novos rostos do contexto migratório”, explica. De acordo com dados trazidos por Pe. Gustot, só em 2017, em Porto Alegre, os migrantes vieram de 37 países diferentes, principalmente africanos, europeus e da América Latina.

A venezuelana Anitza Guayapero veio para o Brasil a fim de melhorar suas condições de vida e viu na diferença do idioma sua maior dificuldade. “A decisão de ir embora não é fácil, chegamos aqui e somos como analfabetos, pois não sabemos nada da língua portuguesa”, conta. Anitza tem aulas semanais gratuitas de Língua Portuguesa no CIBAI e, hoje, já conseguiu alguns trabalhos como professora de espanhol em escolas preparatórias para comissários de bordo.

O haitiano Jacquenel Evariste era professor de francês no Haiti e, quando chegou no Brasil, em 2013, só conseguiu emprego com trabalho braçal. A barreira idiomática, segundo ele, foi o que dificultou no início, junto com o racismo que sofreu. “Você tem que ter coragem, não desistir”, motiva ele. Hoje Jacquenel mantem uma jornada dupla de trabalho: em um hospital e em uma imobiliária, e ainda faz graduação em Letras. Com trabalho e dedicação, ele conseguiu ajudar a família, trouxe a hoje esposa para o Brasil e tem um filho pequeno.

Projeto We are all immigrants: em busca da formação integral dos alunos

Ao estudar o tema nas aulas de Língua Inglesa, nível Upper-Intermediate, a reflexão foi ampliada a partir do Projeto We are all immigrants, idealizado pelas professoras da disciplina, que enxergaram a iniciativa como uma oportunidade de possibilitar que a solidariedade e a diversidade fossem percebidas como aspectos fundamentais para a transformação e construção de um mundo mais justo e fraterno, entendendo a língua como facilitadora da união de culturas distintas.

Doações arrecadadas pelos alunos para o CIBAI

Para envolver os alunos nessa dinâmica, tornando-os protagonistas da sua aprendizagem, eles foram motivados a dialogar com suas famílias sobre suas origens, gerando autoconhecimento e partilha. Depois, as turmas assistiram ao filme The Visitor, que mostra o sistema de imigração nos Estados Unidos e apresenta a importância de se colocar no lugar do outro. A última atividade culminou no encontro com os migrantes e o Pe. Gustot e também na arrecadação de alimentos não perecíveis para doação ao CIBAI.

Segundo o Diretor Acadêmico do Colégio Anchieta, Dário Schneider, é muito importante fazer a leitura desse contexto e entender a realidade dos migrantes. “É um grande tema social e esse encontro é uma oportunidade para aprender mais, fazer uma leitura desse contexto, reconhecê-lo e ter sensibilidade para olhar esse mundo e ajudar o próximo”, finalizou.