A frustração é um sentimento que acompanha o ser humano desde muito cedo, entretanto saber lidar com ela é importante para o desenvolvimento saudável da criança. Mas como é possível fazer isso, perguntam muitos pais. Foi tentando responder a esse questionamento que a equipe da Orientação Educacional do 1º e 2º Anos do Ensino Fundamental trouxe para o encontro da Rede de Pais ontem, dia 31 de outubro, a palestra “Frustração: como lidar com esse sentimento nos filhos“, com o psicólogo André Luiz Moraes.Palestra da Rede de Pais

A partir de sua experiência como psicoterapeuta de crianças e adolescentes, o psicólogo promoveu um bate-papo com os pais, que trouxeram muitas questões de seu dia a dia para compartilhar e tentar refletir sobre possíveis soluções junto com o grupo. Segundo Moraes, experimentar a frustração e a consequente tristeza faz parte da vida e do crescimento da criança, pois o sofrimento está implicado no ato de viver. “A criança que não é frustrada não tem noção do direito do outro. É uma habilidade importante para se construir como um ser cultural, um ser relacional”, explicou.

Conforme o psicólogo, a frustração é uma sombra da expectativa e pode ser conceituada como uma tensão entre o desejo de realizar algo (ou adquirir algo) e a realidade. “A frustração priva um plano mental que foi construído. Quando nos frustramos, exigimos do organismo a construção de novos planos”, pontuou Moraes. Nesse sentido, a frustração está atrelada ao processo educativo da vida, uma vez que é desencadeada em função dos limites que os pais colocam na criação dos filhos. Aqui, o psicólogo destacou a importância de não impor limites, mas construí-los conjuntamente aos filhos. “Limite é a base da noção de regras e disciplina, estabelecendo o que é certo e errado, indicando valores e nível de respeito. A criança não tem capacidade para entender algumas coisas ainda, assim o aprendizado é experencial”, completou.

Muitos pais destacaram a diferença entre a criação que receberam e a que está sendo aplicada aos filhos. Para explicar essa transição cultural, Moraes trouxe a reflexão sobre a visão de família que existia no passado e a de hoje. “Antes os pais estavam no centro, eram as figuras de destaque na família, tinham o poder de decisão, enquanto os filhos orbitavam em sua volta. A relação se dava com base no medo. Hoje, os filhos estão no centro e os pais em sua volta”, esclareceu.

A mudança cultural nos padrões de criação tem consequências definidas para as crianças, conforme o palestrante. Segundo ele, hoje as crianças estão mais ansiosas, sofrem mais do que antigamente, aumentando, inclusive, o número de casos psiquiátricos. O psicólogo também chamou a atenção para a existência de uma demanda cultural em relação à criação dos filhos. “As demandas estão muito mais complexas, o que tem aumentado a sensação de alguns de não ser bom pai ou boa mãe”, garantiu.

Palestra da Rede de PaisMoraes sugeriu que é importante explicar às crianças as razões pelas quais não podem fazer determinadas coisas, mas sempre pontuando os limites que elas devem obedecer. “Utilizem a explicação como aposta para o futuro, pois não podemos esperar a compreensão plena da criança. É importante explicar e efetivar o limite. É algo que ficará guardado na memória dela”, finalizou.