Durante a celebração do 54º Dia Mundial da Paz, em 1º de janeiro de 2021, o Papa Francisco afirmou que “a cultura do cuidado, enquanto compromisso comum, solidário e participativo para proteger e promover a dignidade e o bem de todos, enquanto disposição a interessar-se, a prestar atenção, disposição à compaixão, à reconciliação e à cura, ao respeito mútuo e ao acolhimento recíproco, constitui uma via privilegiada para a construção da paz”.
Na busca por atualizar as suas respostas e os seus compromissos aos desafios apostólicos atuais, a Província dos Jesuítas do Brasil, por meio da Rede Jesuíta de Educação Básica (RJE) e da Fundação Fé e Alegria, publicaram, em setembro de 2020, a “Política Interna de Proteção aos Direitos da Criança e do Adolescente”. O propósito da política é proteger e cuidar. O documento enfatiza que “cuidar é uma arte, que exige a aquisição de técnica; implica o exercício da intuição, da sensibilidade e da criatividade, para gerar a oferta de compreensão e paz às pessoas vulneráveis. Cuidar exige, na perspectiva institucional, uma política efetiva de cuidado e de solidariedade. Essa política terá de contemplar a visão evangélica da misericórdia e justiça, que envolve a cura e a reconciliação”.
Uma política voltada para o cuidado e a solidariedade permite a criação de ambientes seguros e protegidos, abertos ao diálogo, “em que a preocupação maior se ancorará menos na responsabilização e mais na preocupação com a cura – como Jesus a praticava – e o acompanhamento das pessoas abusadas, no espírito do amor cristão”.
A orientadora educacional do Ensino Médio do Colégio Antônio Vieira, de Salvador (BA), Mara Raquel Amorim Martins Valverde, que coordena o Comitê Permanente do Cuidado, considera a cultura do cuidado como um valor humano. “O cuidado abrange sobre olhar o respeito consigo para poder olhar para o outro com respeito”, diz. Além de todo o trabalho da escola, as famílias também podem contribuir em casa com a cultura do cuidado. “É preciso que os pais tenham disponibilidade emocional, ou seja, um tempo com emoção e sensibilidade, voltados à interação com a vida e o desenvolvimento dos filhos e filhas; deixar que suas vidas toquem na vida dos filhos. A escola pode convidar as famílias a refletir sobre esse assunto, com uma escuta sensível e ativa”, sugere.
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Atividades reforçam o cuidado, o respeito e a paz
Ao longo do ano letivo, as Unidades da RJE organizam diferentes momentos com os estudantes, as famílias e os educadores para tratar da cultura do cuidado, o respeito e a paz. Recentemente, o Colégio Loyola, de Belo Horizonte (MG), promoveu a Semana da Cultura de Paz, Prevenção e Combate ao Bullying, com a participação ativa dos estudantes. Diversas atividades destacaram a importância de crianças, jovens e adultos atuarem em prol de uma cultura de paz, através da mediação de conflitos, do diálogo e do respeito. “Nós, aqui no Colégio, basicamente, trabalhamos com o conceito de paz ativa, conceito da ONU, da Unesco, e também dos jesuítas. É aquela paz que está à serviço das pessoas, não aquela passividade de que não tem guerra, não tem tumulto. É uma paz em que as pessoas agem por ela. Então, a gente quer passar essa concepção para as crianças e os adolescentes”, explica a orientadora pedagógica Isabel Santana.
Em Porto Alegre (RS), o Colégio Anchieta, além de projetos relacionados ao bullying, ensina, para os estudantes do 2º ano do Ensino Fundamental uma terceira linguagem: além das aulas de Língua Portuguesa e de Língua Inglesa, eles têm conhecimento sobre comunicação não-violenta (CNV), também conhecida como a linguagem da empatia. A ideia para o projeto surgiu em 2019, mas precisou ser adiada em razão da pandemia. “A partir de algumas leituras e estudos, fomos percebendo que, para este momento, as crianças da faixa etária dos 07 e 08 anos estavam preparadas para entender o que é a comunicação não violenta e para o que ela serve”, conta a idealizadora e orientadora educacional Helenara Diogo. Neste ano, foi disponibilizado em todos os ambientes do campus uma sinalética sobre a cultura do cuidado e a CNV para crianças.
Como parte das ações da Cultura do Cuidado e motivado pelo Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola, celebrado no último dia 07 de abril, o Colégio Santo Inácio, do Rio de Janeiro (RJ), lançou a campanha #nãoésóumabrincadeira. Voltada para toda a comunidade educativa, mas especialmente aos alunos, a iniciativa tem como objetivo prevenir o bullying e pequenas violências do dia a dia que, se forem naturalizadas e não cuidadas, podem gerar problemas mais graves. Além de inúmeras atividades pedagógicas protagonizadas pelos alunos, a campanha contará com cartazes informativos, postagens nas redes sociais e vídeos produzidos pelos próprios estudantes. O tema foi escolhido a partir de um comentário frequentemente observado na fala de estudantes e até de alguns responsáveis. Diante do desconforto provocado por alguma atitude desrespeitosa, é comum ouvir que “era só uma brincadeira”, depreciando os danos causados aos outros.
Aproveitando o Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência nas Escolas, o Colégio Catarinense, de Florianópolis (SC), deu continuidade ao projeto “Roda de Conversa” com os alunos, para abordar assuntos relativos a esses tipos de agressões e trabalhar a comunicação não-violenta. Os estudantes de todas as turmas de 4º e 5º ano, orientados pela estudante de psicologia e professora Indianara Machado Eusébio, e pela orientadora de aprendizagem da Unidade de Ensino I, Adriana Maurina Chaplin Savedra de Araújo, participaram de um encontro educativo sobre a prevenção de atos de violência física e psicológica, como intimidação, humilhação, xingamentos e agressão física, de uma pessoa ou grupo contra um educando no ambiente físico ou virtual.
O próximo passo será ampliar o projeto para outras turmas do Ensino Fundamental (Anos Iniciais) e promover ações em sala de aula que tratem dos temas, incluindo novas rodas de conversa e momentos de orientação. As turmas do 5º ano também participam do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd), um trabalho cooperativo entre a Polícia Militar, o Colégio e as famílias.
O Centro de Formação Cristã e Pastoral do Colégio Medianeira, de Curitiba (PR), fez uma ação com os estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental à 3ª série do Ensino Médio. Para trabalhar a cultura do cuidado e a valorização da vida, eles produziram o origami do tsuru que simboliza o desejo de saúde, felicidade e boa sorte. A lenda diz que se alguém fizer mil tsurus, usando a técnica do origami, com o pensamento voltado para um desejo, ele poderá se realizar. A experiência trouxe um momento de pausa, reflexão sobre a cultura da paz e o compromisso de fazer tsurus com uma palavra que representa o desejo a ser realizado.
Estas são apenas algumas das ações realizadas pelas escolas da Rede Jesuíta de Educação Básica pelo Brasil. O Projeto Educativo Comum (PEC) da RJE, quando se refere à dimensão clima institucional escolar, destaca que “nossas Unidades Educativas devem promover e garantir ambientes livres de qualquer forma de abuso. Tem especial relevância o cuidado pessoal de cada um dos membros da comunidade (cura personalis), sempre orientado à melhor realização dos objetivos definidos para cada segmento da Unidade Educativa. Trata-se de cuidar da pessoa, porque ela é sempre o centro do processo, e, ao mesmo tempo, garantir o alcance dos resultados nos processos que são nosso compromisso institucional com estudantes e famílias”.
Reprodução: Rede Jesuíta de Educação