No dia 4 de maio de 2025, completamos um ano da abertura do Morro do Sabiá, marco de um trabalho voluntário que transformou tristeza e desespero em fraternidade e esperança.
Desde a noite anterior àquela manhã de sábado, víamos pelas notícias o Rio Guaíba invadindo Porto Alegre. Rapidamente, lideranças do Colégio Anchieta reuniram-se para organizar a arrecadação de doações na Associação de Pais e Mestres e destiná-las aos centros de acolhida. No entanto, diante da gravidade crescente da situação, percebemos que receber e encaminhar doações seria insuficiente. Nossa comunidade, formada por cerca de 3.200 alunos, suas famílias, milhares de antigos alunos, cerca de 500 colaboradores e grupos parceiros, como o grupo escoteiro Manoel da Nóbrega, tinha um enorme potencial de mobilização. Assim, decidimos abrir o Morro do Sabiá para acolher famílias desabrigadas.
Mesmo intuindo a complexidade do desafio, a real dimensão só se revelou no final daquela tarde, ao recebermos os primeiros atingidos pela enchente. Conhecer os nomes, histórias e rostos das cerca de 200 pessoas acolhidas nos comprometeu profundamente. Cada voluntário se dedicou para oferecer não apenas abrigo, mas também escuta, cuidado e apoio multidisciplinar.
Esse esforço coletivo só foi possível graças à solidariedade de todos: doações, refeições organizadas por turma, trabalho incansável dos voluntários. Esse movimento traduz o espírito da nossa missão educativa, fundamentada na espiritualidade e na pedagogia inaciana, que impulsiona a experiência, a reflexão, a ação e a avaliação em busca do MAGIS: servir mais e melhor, tornando-nos mais humanos através do amor concreto ao próximo.
Durante os 40 dias de funcionamento do abrigo, enfrentamos dificuldades, mas a alegria da missão cumprida superou qualquer obstáculo. Na avaliação da experiência, reafirmamos o valor do trabalho construído ao longo dos 135 anos do Colégio Anchieta: acreditamos numa educação que ultrapassa a transmissão de conhecimentos, formando pessoas compassivas, conscientes e comprometidas com a transformação do mundo.
A vivência no Morro do Sabiá nos recordou aquilo que talvez seja o mais fundamental dos textos evangélicos e que motiva o nosso fazer cotidiano na busca da excelência acadêmica e humana:
“Eu estava com fome e me destes de comer; eu estava com sede e me destes de beber; era estrangeiro e me acolhestes; estava nu e me vestistes; doente e cuidastes de mim; preso e me visitastes. [..] todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram” (Mt 25, 35-36.40)
Higor Jesus de Lima, SJ