Foi uma manhã inteira de compartilhamento de experiências inovadoras e inspiradoras, de histórias de pessoas que vêm mudando realidades, desafiando a si próprias e deixando suas marcas por onde passam. Assim foi a segunda edição do Magis Anchieta 2018, que aconteceu ontem no Auditório 1 do Colégio Anchieta e contou com transmissão pela TV Unisinos (você pode conferir o vídeo do evento completo em: https://youtu.be/Um_SCJO6eeg).

 Totalmente organizado pelos alunos do 9º Ano e 1ª Série do Ensino Médio, o evento proporciona o aprendizado e o protagonismo dos jovens, que passam por todas as etapas de gestão, desde busca de patrocínio, logística, credenciamento, treinamento de speakers, marketing, técnica, entre outras funções. Todo esse trabalho foi orientado pelo professor Silvio Almeida Jr., que desde o início do semestre vem acompanhando os alunos em toda essa construção.

A primeira inspiração veio logo cedo, apresentada pelo Ir. Celso Schneider, jesuíta, ex-diretor do Anchieta e atual coordenador do Morro do Sabiá e assessor do Show Musical Anchieta. Ele fez um convite à plateia para que saíssem de suas zonas de conforto e que buscassem o entusiasmo em suas vidas, deixando de serem pessoas fatigadas ou boas-vidas para se tornarem entusiastas, assim como resumiu o jesuíta francês Pe. Teilhard Chardin. “Anchietanos, vamos sair da mesmice, façamos a diferença”, convidou.

A delegada Nadine Anflor foi a segunda speaker a subir ao palco, trazendo sua experiência profissional como um exemplo de que a mulher pode atuar e estar onde quiser. Ingressando em uma profissão preponderantemente ocupada por homens, Nadine participou da primeira turma de academia de polícia igualmente divida entre homens e mulheres. Hoje são 33% de delegadas no quadro geral da Polícia Civil, mas ela chamou atenção para o fato de que as mulheres precisam ainda se fazer representar. “Feminismo busca igualdade, não pressupõe supremacia. Eu quero deixar aqui uma sementinha em cada um de vocês. Podem ter certeza: lugar de mulher é onde ela quiser estar”, deixou a mensagem.

O terceiro speaker a apresentar-se foi o Sensei Juarez Silva, que apresentou um projeto social de inclusão por meio do Karatê realizado no município de Marau, interior do Estado, que atender mais de 600 crianças no turno inverso ao da escola. Juarez mudou sua própria condição de vida a partir da modalidade, que pratica desde os 11 anos; ele foi atleta da seleção gaúcha e brasileira e hoje passa seus conhecimentos para mudar outras realidades como a sua. “Nosso objetivo é tornar as pessoas melhores com a prática do karatê. Cada pontapé e cada soco é para eliminar o que tem de ruim em nossa cabeça”, contou. Junto com ele, estavam presentes dois de seus alunos, Frank Maneri e Hiago Alves, que fizeram uma demonstração do esporte e compartilharam suas histórias de superação.

A professora de dança Rebeca Donida contou à plateia sobre como essa forma de expressão artística pode modificar realidades. Rebeca trabalhou por quatro anos em navios de cruzeiros como professora de dança, conheceu muitas pessoas, muitos idiomas e culturas. Algumas pessoas marcaram sua trajetória nesse período e fizeram ver como a dança era um refúgio dos estigmas que eram colocados sobre elas. Trabalhou com mulheres que estavam em processo de retirada de mama e hoje atua junto a um grupo de pessoas que possuem mal de Parkinson. “Juntos buscamos não uma cura, mas uma maneira de lidar com as nossas limitações. E a com a dança conseguimos devolver o poder pessoal a cada um deles”, orgulha-se.

O diretor de graduação da Unisinos, professor Gustavo Borba, falou sobre como os jovens dessa geração são únicos e podem promover as maiores inovações dentro e fora da sala de aula. Segundo ele, o aluno dos sonhos está em todas as salas de aula do mundo, o que falta é despertar esse aluno para o engajamento que se espera dele, entendendo quais suas características, hábitos, como interagem e trazendo isso para a mediação em sala de aula. “Aquele aluno idealizado existe, precisamos trabalhar e construir coletivamente. Transformar a educação, aceitar o diferente, construir diálogo, transformar a forma como aprendemos e ensinamos”, explicou.

A aluna da 3ª Série do Ensino Médio Rafaela Casten compartilhou suas vivências em escolas públicas, com a falta de professores, com a violência e as dificuldades que enfrentam essas instituições. Ao vir para o Anchieta, começou a participar de projetos como Bienal, Mostra Científica, Sinu e Miniempresa e a esforçar-se cada vez mais para ser uma boa aluna, aumentando seu desejo de tonar o mundo um lugar melhor para se viver. “Eu quero tentar melhorar o mundo da forma que eu conseguir. E tu? Qual a marca que queres deixar? Busca teu Magis e aproveita as oportunidades que a vida te dá”, aconselhou.

Manuela Kersting, também aluna do Anchieta, trouxe a importância da autoaceitação do corpo e como superou problemas de autoestima e distúrbios alimentares. “Emagrecer passou a ser minha meta diária. Só sabia falar sobre isso. O que eu conseguia enxergar eram os corpos das mulheres magrinhas que eu via no Instagram”, contou. Ela ainda aconselhou os alunos presentes sobre a importância de procurar ajuda em casos como o dela e de depressão. “Existem coisas mais importantes nessa vida que um corpo perfeito e milhares de likes. Encontrem o equilíbrio de vocês. Vocês preferem as curvas de um sorriso cheio de alegria ou curva de um corpo perfeito?”, lançou a reflexão.

O jornalista, radialista e professor universitário Porã contou como a música faz parte da sua vida e como sua profissão impacta a vida das pessoas diariamente. No rádio desde 1992, Porã sempre teve uma relação muito forte com a música, desde a infância. “A música sempre conduziu todo os momentos da minha vida. E é muito legal poder interagir com as pessoas através da música e dos assuntos que trazemos no rádio. Lembro do Despertador do Porã, na rádio Atlântida, geramos muitas conexões de coisas boas, criamos uma cultura de notícias do bem”, relembrou.

A aluna Julia Lenz Goetz passou por uma experiência de superação junto com o pai, que recebeu o diagnóstico de câncer de mediastino em dezembro de 2014. “Quero compartilhar com vocês três ensinamentos que aprendi com a doença do meu pai: seja persistente e nunca se dê por vencido; há outras pessoas passando pelo mesmo problema que você ou até piores, você não é o único; sempre tenha um propósito e paixão na vida para te motivar”, comentou. Depois disso, Fabricio Goetz, pai da Julia, subiu ao palco para contar como a paixão pela filha e pelos planos futuros foram seus propósitos de vida e motivaram seu dia a dia para superar a doença. “Não importa qual seja o desafio, a atitude é fundamental. Todos nós teremos e passaremos por dificuldades, mas a forma pela qual passamos vai definir como será”.

A bióloga Elisa Petersen tinha um sonho de trabalhar na região antártica e estudar sobre o ecossistema existente naquele local. Depois de muito esforço, conseguiu uma bolsa de doutorado e junto com mais um grupo foi para a Antártida. Viveu em confinamento em uma ilha, que só podia ser acessada por helicóptero e junto com as outras pessoas aprendeu a viver em condições básicas de sobrevivência, como dividir igualmente alimentos, tomar banho de vez em quando, usar apenas banheiro químico e suportar o frio congelante. “Hoje estar aqui é um orgulho. Enfrentei muitos desafios e eu me superei. Tudo valeu a pena. Tornei-me uma profissional melhor, uma pessoa melhor. O que eu tenho a dizer para vocês é: acreditem nos sonhos e vão até o fim. O quanto vocês estão dispostos a pagar pelo seus sonhos ”, questionou.

O aluno Arthur Sanco e a ex-aluna Carolina Dib falaram sobre a importância do autoconhecimento. “Minha dica é que permitam sair da zona de conforto, pensar fora da caixa. Pensem realmente sobre o que vocês gostam e isso só vivendo para saber”, aconselhou Arthur. Carolina contou um pouco da sua trajetória de vida e sua dificuldade de encaixar-se nos grupos. Depois de desafiar-se e participar de alguns projetos propostos pelo Colégio, ela contou que passou a aceitar-se e sentia que as outras pessoas a aceitavam também. “Quis concorrer à presidência da miniempresa, mas veio o medo, a dúvida e a incerteza. E quando eu vi eu consegui! Outra conquista foi ser uma das oradoras da turma, foi como se as pessoas realmente me aceitassem e eu as representasse. Conforme ia tendo conquistas, ia saindo ‘do buraco’”, comemorou.

O último speaker foi Thiago Berto, que apresentou o projeto Cidade Escola – Aymi, uma proposta de escola diferente, na cidade de Guaporé, onde, segundo ele, “as crianças são deixadas em paz”. A ideia veio após uma crise existencial, uma viagem pelo mundo e um período morando no Butão, perto do Tibet, onde ele encontrou um propósito de vida. Após visitar várias escolas, Thiago chegou a um modelo que não possui sala de aula, nem turmas, crianças de várias idades convivem em um ambiente livre. Não há nenhum tipo de avaliação e a criança tem liberdade para escolher o que quer aprender em um ambiente totalmente sustentável e em meio à natureza.

As atrações culturais ficaram por conta da banda Fumaça Urbana junto com o professor Ramiro Bicca, a banda sete37 e a apresentação das alunas do Espaço de Dança Denise Cancaro.

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