O momento que estamos vivendo tem exigido das famílias uma grande capacidade de adaptação. A permanência prolongada em casa, a alteração na rotina e a restrição aos espaços ao ar livre impactam a vida de todos, e em especial a das crianças. Para elas, o brincar livre e com espontaneidade é fundamental para o desenvolvimento do imaginário e da criatividade, além de promover a autonomia. Em tempos de isolamento social, de múltiplas demandas, é importante flexibilizar algumas regras, adaptar as brincadeiras, lembrando que o momento está, também, favorecendo a convivência.
Embora as famílias tenham assumido outras tarefas domésticas em paralelo às profissionais, o isolamento social tem oferecido a oportunidade para os pais estarem mais próximos física e emocionalmente dos filhos. “Isso oportuniza alguns momentos mais prazerosos e outros mais desafiadores, que exigirão do adulto uma postura mais firme em relação ao comportamento da criança, sem deixar de ser amoroso e acolhedor”, observa a orientadora educacional.
A orientadora lembra que brincar é um direito da criança. “É fundamental por possibilitar que a criança se coloque como protagonista de seu próprio desenvolvimento. É por meio do brincar que ela amplia a sua leitura de mundo, seus repertórios, o vocabulário, desenvolve habilidades sociais, reconhece e identifica as suas emoções, explora sentimentos, valores e aprende a lidar com o estresse”, explica. Além disso, favorece a ressignificação do tempo, ensina a ter tempo, abrindo o espaço de potência, admiração e contemplação, no tempo da infância.
Mas como manter a rotina de brincadeiras diante da recomendação de que é mais seguro ficar dentro de casa? A orientadora lembra que o brincar é livre e criativo. Por isso, há excelentes recursos ao alcance de todos. “Blocos, palitos, balões, rolhas, barbantes, botões, retalhos: são objetos que podem se transformar em infinitas representações. Oportunizam a espontaneidade, o criar, o recriar, o imitar, o pensar, além de favorecer o desenvolvimento de aspectos físicos, motores, cognitivos e socioemocionais”, destaca a orientadora. É importante evitar brincadeiras que promovam risco à integridade física e tomar cuidado com objetos e móveis para que ninguém se machuque. “Há riscos inerentes às brincadeiras, e esses fazem parte do desenvolvimento”.
O tédio é próprio da vida. E senti-lo pode ser a mola propulsora para a criatividade. “É justamente em momentos de pausa e de falta que o espaço do desejo e do pensar criativo se manifestam. No contexto atual, está aí uma excelente oportunidade para se utilizar dos recursos tecnológicos, com propósito, intencionalidade e sentido, promovendo a manutenção dos vínculos”.
Para o adulto que acompanha a criança, cabe a importante tarefa de tornar efetivas as possibilidades, como facilitadores e observadores, estimulando, por meio do brincar, narrativas, expressões e sentimentos. É aconselhado não interferir no processo, a não ser que seja solicitado pela criança, com um pedido de ajuda, uma orientação ou um auxílio, buscando não modificar a ideia e a organização estabelecida por ela. “O brincar é uma maneira que a criança encontra para expressar sua compreensão do que está em seu entorno, para os tempos atuais. Por isso, nada mais indicado para ocupar o tempo das crianças do que oportunizar o brincar”, finaliza a orientadora educacional.
– Bolinhas de sabão, construções, cabanas e tendas, teatro de fantoches, massinha de modelar, jogos de tabuleiro, brincadeiras ritmadas, cantigas infantis são outras opções.