A educação transforma ou é a transformação que educa?
Seguindo os passos de Santo Inácio de Loyola, a Rede Jesuíta de Educação Básica (RJE) tem como missão de fé, amor e serviço oferecer uma educação católica, em que o cuidado humano e a qualidade educacional são aliados. Anualmente, a RJE beneficia milhares de estudantes e famílias em situação de vulnerabilidade econômica por meio de suas ações sociais, como Bolsas de Estudo, Ensino Médio Noturno, Ensino Profissionalizante e Unidades Educativas 100% gratuitas.
A RJE mantém o trabalho social em suas 17 unidades educativas, em conformidade com a legislação vigente por meio da Lei Complementar nº 187 de 16 de dezembro de 2021, que dispõe sobre a certificação das entidades beneficentes e regula os procedimentos referentes à imunidade de contribuições à seguridade social de que trata o §7º do art. 195 da Constituição. Na área de educação, desenvolve o Programa de Inclusão Educacional e Acadêmica (Piea), oferecendo bolsas de estudo e benefícios complementares, para os níveis de educação básica, garantindo o acesso, permanência e a aprendizagem do aluno. Na área de assistência social, desenvolve serviços, programas e projetos nas categorias de atendimento, assessoramento, defesa e garantia de direitos. “Com base em valores éticos e cristãos, a Companhia de Jesus implantou, em 2009, o Piea, voltado a atender alunos com bolsas de estudo integral e todos os apoios necessários para que essas crianças e esses adolescentes tenham a oportunidade de receber uma educação de qualidade que faça a diferença em suas vidas, família e comunidade em geral. Nosso objetivo é desenvolver cidadãos para o mundo”, explicam Leila Pizzato e Tatiane Almeida Silva de Sant’Ana, coordenadoras de Assistência Social da Província dos Jesuítas do Brasil. Os alunos com bolsas de estudos nas quatro escolas totalmente gratuitas da RJE somam 1.521. Considerando todas as unidades educativas da Rede, são 4.321 estudantes na educação básica com bolsas de estudo.
“Além dos inúmeros projetos sociais vivenciados em cada um dos Colégios, a RJE atende um conjunto de unidades totalmente gratuitas. Comprometermo-nos, como Rede, junto a essas realidades, todas elas em situação de extrema vulnerabilidade social, significa garantir ambientes de aprendizagem que façam as crianças, adolescentes e jovens produzirem ferramentas que os ajudem a superar realidades de exclusão, violência, pobreza e extrema desigualdade social, refletindo em melhores caminhos para colaborar na criação de relações justas e fraternas, consigo, com o outro e com a criação. Agradeço às milhares de famílias que confiam a Educação de seus filhos à Companhia de Jesus e que compreendem o sentido de um verdadeiro currículo evangelizador. Agradeço aos inúmeros educadores, docentes e não docentes, que vestem a camisa desse projeto educativo. Agradeço aos inúmeros benfeitores, antigos alunos, amigos e amigas da Companhia de Jesus que nos ajudam na formação dessas milhares de crianças em situação de vulnerabilidade e pobreza extrema. Juntos, edificamos um futuro mais esperançoso”, ressaltou o diretor da RJE, professor Fernando Guidini.
Abaixo, saiba mais sobre o trabalho social realizado pela RJE:
Bolsas de Estudos
Conforme a legislação, são oferecidas prioritariamente bolsas de estudo com 100% de gratuidade e algumas de 50%. Além disso, a RJE disponibiliza benefícios complementares, como material didático, uniforme escolar, alimentação, transporte, atividades extracurriculares e extraclasses, a depender da necessidade do aluno e da família que são acompanhados pedagogicamente e socialmente pela instituição.
Leila e Tatiane destacam que a RJE também concede bolsas de estudos nos colégios, porém a ênfase na destinação é para as unidades educativas 100% gratuitas. Um exemplo é a Escola Técnica de Eletrônica Francisco Moreira da Costa (ETE FMC), de Santa Rita do Sapucaí (MG). Fundada por Luzia Rennó Moreira, conhecida por Dona Sinhá Moreira, a instituição iniciou as suas atividades educacionais em março de 1959, sendo a primeira escola de eletrônica de nível médio da América Latina.
Jéssica Adriele Tomaz Pereira, assistente social da ETE FMC, lembra que a Escola foi um divisor de águas na realidade da cidade, pois trouxe novas perspectivas de formação e a possibilidade da criação de empresas na área de eletrônica e tecnologia. “A cidade possui inúmeras empresas atuantes nestas áreas em que muitos de seus donos ou pessoas em cargos de chefia passaram por esta renomada Escola. Sem contar nas diversas empresas de outras cidades e estados que têm na instituição uma referência de local de formação de excelência, com profissionais que se destacam”, conta.
Atualmente, cerca de 260 estudantes são atendidos com bolsas de estudo integral. As bolsas estão distribuídas nas modalidades de Ensino Médio Concomitante (Diurno), nos cursos técnicos em Eletrônica, Telecomunicações, Equipamentos Biomédicos e Desenvolvimento de Sistemas; e de Ensino Técnico Subsequente (Noturno), nos cursos técnicos em Eletrônica, Telecomunicações e Sistemas de Energia Renovável.
“Os estudantes e seus familiares que procuram a ETE enxergam na formação a possibilidade de mudar a realidade socioeconômica familiar. O potencial de transformação de vidas e realidades por meio da ETE é enorme: sempre que atendo as famílias, escuto relatos de integrantes, ex-alunos, afirmando que a formação foi primordial para que conquistassem uma boa colocação no mercado de trabalho, e no quanto isso impacta a melhoria de qualidade de vida do grupo familiar como um todo”, destaca Jéssica. O setor de Serviço Social atua, além do processo de concessão de bolsas de estudo, no acompanhamento dos estudantes e famílias que apresentam um maior comprometimento financeiro. Por isso, a equipe busca soluções para minimizar os impactos no desempenho escolar por meio do projeto Bolsa Alimentação, da aquisição de uniformes e do empréstimo de ferramentas para a utilização nas disciplinas técnicas, entre outras iniciativas. “Ou seja, para além de garantirmos condições de ingresso aos que não podem pagar, também buscamos garantir que estes tenham condições de permanecer e concluir suas trajetórias acadêmicas na Escola. Acreditamos que com a concessão das bolsas, o apoio, o acompanhamento e a formação de qualidade são fatores que terão um imenso potencial de transformação de realidade na vida dos estudantes e seus familiares”, complementa.
O Colégio dos Jesuítas, de Juiz de Fora (MG), possui o Ensino Médio Integral, que oferece bolsas de estudo para estudantes da 1ª a 3ª série do Ensino Médio. Com cerca de 30 estudantes por série, as turmas recebem todos os benefícios listados e estão integradas na rotina do Colégio, ainda que permaneçam em tempo integral, num cotidiano intenso de estudos. Transformador, o projeto reúne importantes resultados acadêmicos, com altíssimas aprovações em instituições públicas e privadas do país.
Unidades educativas 100% gratuitas
Das 17 unidades educativas da RJE, quatro são escolas de atendimento 100% gratuito, ou seja, não possuem qualquer modalidade de pagamento ou contraprestação de serviço associada:
-
Escola Nhá Chica, de Montes Claros (MG).
-
Escola Padre Arrupe, de Teresina (PI).
-
Escola Santo Afonso Rodriguez (Esar), de Teresina (PI).
-
Centro Educativo Padre Agostinho Castejón (Cepac), do Rio de Janeiro (RJ).
Escola Nhá Chica
Inaugurada em 2003, a Escola Nhá Chica está localizada no bairro Maracanã, em Montes Claros (MG), e oferece Educação Infantil para crianças dos quatro aos seis anos de idade. Nos últimos anos, o Centro de Educação Infantil Nhá Chica foi integrado à RJE, recebendo seu nome atual. A diretora da escola, Leila Xavier Amorim, explica que, conforme a legislação vigente, as famílias dos alunos matriculados devem apresentar perfil socioeconômico de até 1,5 salário per capita, mas que os dados levantados apresentam que a maioria possui rendimento de até 0,5 salário per capita.
“Nesse sentido, o atendimento da escola busca proporcionar impacto positivo educacional e social aos alunos e suas famílias, e, consequentemente, à comunidade local. Garantimos qualidade dos serviços prestados, estrutura física adequada, profissionais de excelência, alimentação, uniforme e material didático aos alunos. Esse é um diferencial da instituição, pensar na educação para além do ensino regular individual ao aluno, mas buscando proporcionar condições de melhor qualidade de vida para a família, e esse é o principal ponto reconhecido e aprovado pela comunidade local”, destaca. Para o ano letivo de 2024, são 165 crianças matriculadas.
Escola Padre Arrupe
Em 1989, após a sensibilização dos jesuítas com a situação das famílias da Favela da Prainha, em Teresina (PI), foi inaugurado o Centro Social Pedro Arrupe. Após 13 anos, a falta de estrutura impossibilitou a continuidade das ações na localidade, e uma nova escola foi projetada no Residencial Mestre Dezinho, no bairro Portal da Alegria. Em 2003, por iniciativa do Pe. Andrade José da Silva, SJ, foi fundada a então Escola Materno Infantil Padre Pedro Arrupe (EMIPA), em homenagem ao Superior Geral da Companhia de Jesus, Pe. Pedro Arrupe (1907 – 1991), para atender 400 crianças de dois a cinco anos de idade.
Em 2015, a Escola passou a ofertar turmas do 1º ano do Ensino Fundamental e, deste modo, realizou a mudança de nome, passando a se chamar Escola Padre Arrupe. Atualmente, são cerca de 512 alunos atendidos, divididos entre a Educação Infantil I até o 5º ano do Ensino Fundamental. Nutricionista da Escola e mãe de aluno, Naiane Mara conta que a experiência do filho relacionada à educação recebida diariamente é diferente de outras escolas, com o enfoque na humanização e o cuidado para com os alunos, que reflete no modo como os mesmos são inseridos diariamente nas atividades de aprendizado.
Naiane reside nas proximidades da instituição e, ao fazer parte da comunidade educativa e social, percebe a diferença causada dentro da estrutura do bairro. O apoio educacional, social, afetivo e no fornecimento de mantimentos básicos, como a alimentação, favorece anualmente centenas de famílias da região que não tinham esperança.