No longo período de convalescença, Inácio pediu livros de cavalaria, passatempo de uma época que não conheceu a televisão. Mas não havia tais livros no austero castelo dos Loyola. Então, a cunhada de Inácio, Madalena, que era a mulher do irmão mais velho e, portanto, a senhora da casa, ofereceu-lhe dois livros religiosos: a Vida de Cristo e a Legenda Áurea (relato da vida dos santos).
Assim, forçado pelas circunstâncias, Inácio começou a ler os mais belos exemplos da tradição cristã. Lia, relia e copiava muita coisa num caderno. A leitura das vidas de Cristo e dos santos fez com que Inácio começasse a ter pensamentos piedosos ao lado dos pensamentos mundanos que costumava alimentar. Sonhava, por exemplo, em fazer grandes coisas para ganhar a admiração de uma princesa. Mas agora, ao lado dessas fantasias, começou a pensar: “São Domingos fez isto; pois eu tenho de o fazer também. São Francisco fez aquilo; pois eu vou fazer outro tanto…”.
Refletindo sobre o que se passava no seu íntimo, foi caindo na conta de que os pensamentos sobre Deus e sobre os santos custavam a entrar em seu coração, mas depois deixavam-no contente e com muita paz. Pelo contrário, as vaidades do mundo entravam facilmente, mas depois o deixavam frio e descontente. Inácio começou então a ter a experiência de “discernimento espiritual”, isto é, a saber distinguir a ação de Deus nele e a influência do mal e da própria fraqueza humana.
A conversão de Inácio não foi de um dia para outro, mas foi para valer. Depois de longos meses de convalescença, decidiu romper com a vida passada e iniciar uma vida nova.